quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Petit jour, vie simple


Amanheci disposto a andar, andar e andar muito. Sentir a cidade, sua gente, seus dramas, mas encontrei muitos sorrisos pelo caminho. Fui ao centro, sem planos nem rota, simplesmente andando pelas ruas e travessas com meus fones de ouvido plugados numa seleção incrivelmente melancólica mas felizmente, era exatamente o que eu estava afim de escutar.

O dia estava quente e agradável, depois de cruzar as vielas cinzas e escuras da região da Travessa da Lapa, me animei e fui parar na XV, Rua das Flores, do Sol e das pessoas. Pedi um sorvete e sentei naqueles míticos bancos da Boca Maldita e fiquei observando os senhores sexagenários, que sempre contam com seus trajes alinhados e uma língua afiada, interagirem entre si e também observarem o movimento dos transeuntes, fazendo seus comentários jocosos.


Mas o que chamava atenção mesmo eram dois repentistas, que fizeram muita gente parar para escutar suas piadas malcriadas e engraçadas, que poderiam ofender àqueles mais politicamente corretos , feministas, ou ainda os com cornos incurados mesmo. Com repentes que falavam de traições, homossexualidade e submissão feminina arrancavam risos e gargalhadas dos pobres brasileiros que ali paravam, como se rissem da própria desgraça, eu também ri, poxa, queria me sentir inserido na piada, no grupo, porque bullying na XV de Novembro não dá, mesmo. Só recusei-me a fazer uma única coisa: "Quem não bater palma é viado! - haha" - Não bati.


Começaram uns pingos de chuva, muitos correram, mas era uma chuva morna que caiu nos meus ombros como uma bênção, um alívio ao calor, mas que também me fez voltar a caminhar, fui, pela chuva, andando em direção à Rua Comendador Araújo, cruzei a Praça Osório, passei pelo edifício que eu adoro e que foi meu sonho de consumo por algum tempo, quase fui atropelado por um ônibus biarticulado, mas continuei seguindo. Cruzei por uma catadora de papéis, que carregava junto com ela três crianças, dentre elas uma garotinha linda, que devia ter, não mais que quatro aninhos, fofa e que não se abalou pelos pingos que lhe acertavam, meio que talvez já tenha se acostumado com a umidade das calçadas, só sei que deu aquele apertinho incomodo de ver algo que realmente não lhe agrada, continuei andando.


No shopping, fui ver "O Curioso Caso de Benjamin Button", filme que a muito queria ver e ontem tinha achado o tempo pra isso também, já imaginava como seria e realmente, foi. Chorei feito um bezerro desmamado, como diria minha mãe, saí da sala impactado, uma história rica, que te envolve desde o início, que te faz rir e se emocionar. Saio da sala em forma de "Panda humano" com meus olhões ridiculamente vermelhos, isso não acontecia desde "Across the Universe" - outra pérola cinematográfica.


Benjamin Button em três fases / faces

Pois bem, meu passeio ainda incluiu uma rápida passagem num boteco com uns amigos, onde despejei, nos poucos minutos que ali fiquei, várias ideias e insultos moderados à dois amigos, no melhor estilo britânico-sarcástico, bem a minha cara. Meu humor não estava bom, mas ainda mantive a pose, estava feliz por dentro, mas exteriorizava uma densidade característica, como se meus problemas fossem nuvens ao meu redor, que nunca se dissipariam. Vim embora.

Convite para dormir fora, não, obrigado. Como diria o Senhor do asilo:
"Já lhe disse que fui atingido, sete vezes, por raios?" Ontem seria uma dessas vezes.

Um comentário:

Eveline disse...

Puxa, confesso que por um tempo achei que fosse a única que gostava de passear pela XV, meio sem rumo, pra lá e pra cá, observando tudo e nada ...

Sobre "O Curioso Caso de Benjamin Button", eu também gostei e me emocionei muito ...