
Nesse tempo de ócio em minha vida tenho caminhado mais no centro da cidade, coisa que não fazia a muito tempo. Trabalho, universidade e o trajeto casa-balada-casa estava fazendo com que meu olhar de urbanista tenha ficado um pouco ofuscado, mas esse novembro me fez voltar às origens e percebo que minha cidade está mudada, o perfil da cidade está mais denso, mais iluminado, mais com cara de metrópole do que vila, o que acho positivo, claro, até o ponto de começar a me aprofundar nos detalhes e perceber bizarrices comuns a evoluções, desnecessários, mas onipresentes pois uma grande verdade é o mau gosto de uns fofos que se intitulam arquitetos, mas que parecem mais crianças montando Lego sem o menor pudor de desrespeitar o caráter da cidade. Procuro esquecer os pormenores e focar no que realmente me deixa feliz, a vida resurgindo entre as calçadas de petit pavê...
Grandes lançamentos imobiliários, torres multifuncionais, complexos de vida, pra uma vida cada vez mais complexa, estão fazendo com que as pessoas voltem a se interessar pelo centro da cidade, que a alguns anos, pra não dizer décadas, estava abandonado, renegado devido a violência gerada pelo tráfico e prostituição, que faziam das ruelas escuras e úmidas da cidade, um convite a retirar-se àqueles de bem, que ainda nutriam um carinho pelo local onde a cidade nasceu e pulsa durante o dia. Imóveis inclusive de luxo, que fazem qualquer playboy do Ecoville, pseudo-bairro-sonho do rei do kitsche curitibano Bruno de Franco - outra hora falo mais a respeito, sonhar em oferecer festinhas nas novas coberturas equipadas como as melhores balada da cidade, em pleno 44° andar! hahaha Como diria a grande Maria da Graça, não a professora, mas a Xuxa Meneghel mesmo: "E quem não quer..." Novos objetos de desejo, meu inclusive, fazem do centro a nova coqueluxe curitibana! Que Batel o quê, minha gente, ser "hype" é morar no centro, let's rock"!
E é esse público jovem, rico ou metido a artista mesmo, que tenho certeza que vai dominar inicialmente esse centro e fazer dele um local que também seja vivo durante a noite, que terá mais arte, mais trânsito de pessoas durante todo o dia, mais qualquer vestígio de criatividade e que, daí sim, seja mais propício a ocupação daqueles mais idosos, ou infantis, pois o centro já teria então, uma cara mais agradável, fazendo com que o crescimento urbano se volte ao centro e não exploda junto às já desestruturadas fronteiras curitibanas, regulando o crescimento de toda a cidade, claro, isso é apenas uma projeção pra um futuro, quando, nessas condições, a população precise de menos carros, ou seja, menos poluição, uma cidade mais verde, mais sustentável, onde o ciclo diário seja mais distribuído pela cidade, que o exemplo do centro guie a ocupação mais racional de toda a cidade e possibilite a criação de núcleos onde a moradia, o trabalho e o lazer estejam próximos entre si e montem um sistema urbano mais uniforme e mais verde.
Voltando a questão das condições do centro... Ele está mais iluminado, diria até mais bonito, mais limpo, parece que a administração municipal acordou e percebeu mesmo: "Uau, estamos matando nossa cidade - Fica Beto! - haha" As incorporadoras também tiveram o start de repensar tudo isso. Poxa, será que nossos incríveis seminários de arquitetura tiveram alguma coisa a ver com isso? Prefiro me encher de orgulho e acreditar que sim! E acreditar também que Curitiba voltará a ser considerada aquele modelo de viver, orgulho desse bairrista que vos fala.